sexta-feira, 17 de maio de 2013

Entrevista CADIN - 2ª Parte


Que tipos de tratamentos são mais utilizados? Quais as principais técnicas utilizadas?


Na intervenção precoce há dois ou três grandes modelos famosos no autismo. Um, numa linha mais lúdica de trabalho de interação com as crianças, chamado flortime e sunrise. São intervenções em que estamos no quarto com a criança, estamos no chão com a criança com autismo, e trabalhamos só na relação com a criança, procuramos brincar à maneira delas acompanhar a brincadeira dela mesmo que seja uma brincadeira muito desadequada e repetitiva. Estamos no chão com a criança, estamos a brincar com a criança a aceitá-la como é, uma expressão “quando estamos a brincar com um carro com a criança e a criança pára para ver o que estamos a fazer, então é uma luz verde, pois é sinal que posso fazer “brum brum”. Estas intervenções são muito na base da aceitação da criança e brincadeira. No outro extremo, temos as intervenções cognitivas comportamentais intensivas, há uma intervenção que se chama Aba. Extremamente intensivo e por vezes temos meses de trabalho com o paciente a procurar que ele extinga comportamentos, estereotipias e perda de privilégios quando os exibe, que implemente comportamentos como olharmos ou fazer trabalho escolar e damos recompensas. Aqui no Cadin não utilizamos nem o extremo nem o outro, as colegas que trabalham com crianças o que fazem é que têm momentos de interação e tem momentos de trabalho em que usam a metodologia Aba, e aqui estamos na mesa a trabalhar, estão a ganhar privilégios ou a perdê-los conforme os comportamentos que manifestarem, e no final da sessão vão para o tapete um bocadinho e então vamos brincar, interagir de uma forma mais lúdica.

E qual a duração média dos tratamentos?


É de muito longo prazo, com as crianças geralmente propõe-se uma intervenção mais intensiva, em que podem vir 2 a 3 vezes por semana. As sessões são de 50 minutos mas o técnico prepara a família para trabalhar com a criança em casa e prepara a escola para trabalhar com a criança. Portanto vêm aqui 3 vezes por semana, durante 50 minutos, mas o técnico também faz um trabalho que permite que o seu trabalho que seja replicado num contexto familiar e escolar. Posteriormente, pode ir-se espaçando mais a intervenção, em vez de vir duas vezes passa a vir uma, mas é para o resto da vida.

Qual a taxa de sucesso dos tratamentos?


Temos vindo a ver que quando o diagnóstico é muito precoce, podem ser autismos até graves, quando a intervenção é feita desta forma, e ela é consistente por técnicos, familiares, professores, em que toda a gente comunica, troca impressões, trabalham todos da mesma maneira, o sucesso é maior e a criança aproxima-se mais da Síndrome de Asperger.

Qual o papel dos familiares/amigos na fase de tratamento?


Isso é absolutamente essencial, o papel e o apoio dos familiares, da escola, dos professores e colegas. Estes miúdos muitas vezes desenvolvem perturbações secundárias que vão agravar todo o quadro, devido a serem vítimas de bulling grave nas escolas. Mas, felizmente, muitas destas pessoas têm uma força enorme. Por vezes, há histórias arrepiantes, que nem nós próprios tínhamos vontade de voltar à escola e estes miúdos continuam a ir à escola e a sofrer todos os dias. A família é fundamental, a escola é fundamental e os professores e os colegas são fundamentais para ajudar estas crianças e adolescentes.

Como se processa a vida escolar de pessoas com estas características?


Mais uma vez temos entre o Autismo e a Síndrome de Asperger uma grande diferença. No autismo severo a vida escolar logo desde o início tem de ser toda ela adaptada, tem que haver medidas específicas. Atualmente o que se acredita é que a filosofia de inclusão destes alunos na escola, uma inclusão no caso do autismo severo não pode ser uma inclusão na sala de aula, muitas vezes podem estar em algumas disciplinas com os colegas mas noutras vezes estão na escola mas estão numa sala especializada para eles, são chamadas salas de ensino estruturado, porque eles precisam de muita estrutura na sala de aula. Numa sala de aula comum tem demasiado barulho, demasiada distracção e tem pouca estrutura para um aluno com autismo, portanto são alunos que desde o 1º ciclo têm adequações curriculares e nos seus processos de avaliação que estão em algumas aulas, como educação física e até estão com colegas mas quando se trata de disciplinas como português ou matemática estão numa sala de ensino estruturado.
No caso da Síndrome de Asperger chegam a fazer o percurso académico inteiro sem qualquer tipo de ajustamento no processo educativo, outros precisam de ajustamentos mais ao nível do processo de avaliação, nomeadamente com tempo extra para fazerem os testes e eventualmente com adequações no tipo de questões, questões mais directas, eles têm algumas dificuldades nas questões abertas. Eles têm apoio pedagógico personalizado.

As instituições educativas que acolhem estas crianças estão preparadas para as receber e ajudar?


As instituições são obrigadas a aceitar e nem todas têm salas de ensino estruturado, por vezes o aluno se tiver autismo severo pode ter que se deslocar para mais longe. As escolas são obrigadas a terem as salas de ensino estruturado caso, o aluno traga com justificação médica que sofre de autismo, têm que implementar as medidas respectivas. Basta existir boa vontade para um aluno conseguir ter um bom ensino e ter um bom percurso escolar.

O CADIN enuncia como utopia afirmar-se como um centro de desenvolvimento aberto a todas as pessoas, independentemente das suas condições económicas. Até que ponto o CADIN já conseguiu realizar essa utopia?


Tem a ver com as bolsas que o Cadin proporciona aos seus utentes, mas hoje em dia as bolsas são cada vez mais restritas e por isso não é possível abranger todas as pessoas. No início, as famílias que chegavam com dificuldades económicas recebiam logo a bolsa social, mas agora é preciso ir procurar ao tribunal, à segurança social e a procurar outras ajudas económicas, fazer campanhas, voluntariado…
Cada vez mais somos obrigados a encaminhar pessoas para outras estruturas de apoio pois, infelizmente, o Cadin não tem possibilidade para chegar a todas as que necessitam.

Muito obrigada pela sua disponibilidade.

Sem comentários:

Enviar um comentário